quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A Tribo Guató

Os Guatós

Única tribo nômade, os Guatós tornaram-se respeitados caçadores pelo manejo certeiro do arco e da flecha. Exímios canoeiros, sagraram-se mestres na arte de construir canoas de troncos de árvores e de viver sobre elas, semanas se preciso, remando de rio em rio, lagoa em lagoa. Os homens sabiam remar muito bem. As mulheres, sentadas à popa, vinham governando o barco por meio de uma pá e as crianças acocoravam-se no meio sobre uma esteira. As canoas, com três palmos e meio de largura e 20 a 25 palmos de comprimento, levavam sempre cães, arcos e flechas para caçadas e pescarias. Sempre estavam em busca de um lugar seco para acampar.

Índio

As mulheres cobriam a sua nudez apenas com um rôlo de cordas da casca de palmeira tucum, suspenso numa embira amarrada à cintura. Os adultos andavam nus e todos traziam nas orelhas brincos de penas vermelhas, negras ou de outras cores. Diziam que os Guatós viviam com mais de uma mulher, porém, ao contrário dos Guanás, eram extremamente zelosos com suas esposas a quem amavam e recebiam provas de ternura e fidelidade.

Índia e BebêA língua dos Guatós era rápida. Quando estavam dois a conversar, nada se ouvia senão monossílabos ou palavras curtas. Em terra, também eram bons caçadores. Valentes diante da onça pintada, provocavam-na, a princípio, enfurecendo-a, fazendo a flechadas ligeiros ferimentos e quando a fera, já bastante irritada, saltava sobre êle, o guató só esperava de pé e cravava-lhe a zagaia (lança curta feita de osso de jacaré ou espigão de ferro).

Matavam também jacarés, seu principal alimento. Faziam grandes matanças de bugios, guaribas e lontras. Preparavam com cuidado as peles. Costumavam colher o arroz bravo nos pantanais. Teciam com casca do tucum grosseiros mosquiteiros onde dormiam. A tribo era pouco numerosa. Pouco mais de 300 almas. Mas havia uma taba com mais de 2000 índios, inimigos de qualquer contato com brancos. Os Guatós eram bem feitos, robustos, de pele bronzeada e cabelos corridos e mais pareciam do tipo europeu. Alguns tinham porte alto, boa figura e nariz aquilino. Alguns deles haviam morado entre os brancos e se misturado à eles, retornando mais tarde, por gosto pela vida primitiva, aos antigos hábitos. Talvez daí a semelhança com os europeus. No meio do queixo, alguns fios de barba.

O último dos Guatós

Na beira do fogo, Togopanan busca calor. A lembrança de seu povo guató já não o aquece o suficiente. Ele olha a chama através da bruma dos olhos, como quem olha para dentro de si. Está quase cego.

Índio <<<span class=span class=" blsp-spelling-error="" id="SPELLING_ERROR_28">No quarto de subúrbio onde vive em Corumbá, êle não precisa enxergar. Togopanan ou João Quirino de Carvalho, está exilado de sua terra. Não há caça, pesca ou o colorido do Pantanal. Dos devaneios da saudade, Togopanan volta ao tempo em que a sua vida era povoada pela magia das paisagens do Amolar. Quando se pergunta sobre o futuro dos guatós, João Quirino não ouve mais. O ouvido seletivo se fecha. Ele não pode evitar a diluição do seu povo, não sabe que detém uma sabedoria milenar. Agora, dribla as suas lembranças.

Localização
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O Pantanal situa-se no sul de Mato Grosso e no noroeste de Mato Grosso do Sul, ambos Estados do Brasil, além de também englobar o norte do Paraguai e leste da Bolívia (que é chamado de chaco boliviano), considerado pela UNESCO Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera.

A CULINÁRIA

A palmeira bacuri (Scheelea phalerata), conhecida no Pantanal como acuri, é utilizada de várias maneiras, entre elas, como alimento: a água do coco verde é potável, também usada como colírio por ser estéril. A castanha do fruto maduro é comestível e tem sabor semelhante ao coco-da-Bahia Também seu palmito é conhecido por ser o mais saboroso entre as palmeiras da região. O licor do caule é levemente alcoólico, usado como fortificante, era apreciado pelos índios Guató, semelhante à chicha (bebida fermentada feita de milho), sendo preparada da seguinte maneira:

“Prepara-se o acuri de tal maneira que as folhas maiores se dobram para baixo. Na base do tronco, escava-se, por meio de uma concha ou pedacinho de ferro, um orifício, onde se ajunta a seiva. A bebida leitosa e de bom sabor é sorvida no tronco por meio de um canudo. Dizem que pela manhã ela ainda é mais embriagadora do que à noite. Isto se explica pelo fato de, durante a noite, o líquido completar a fermentação” (Schmidt, 1942, p. 122-123).

Após o preparo dessa bebida, cujo sabor pode agradar a índios e não-índios, a palmeira morre, sendo necessário transplantar outras para o seu lugar e aguardar anos para novas frutificações. Os Guatós também utilizam na alimentação o palmito, a polpa e amêndoa dos frutos (esta última rica em óleo graxo) que, acompanhados com alguma carne, geralmente são preparados sob forma de ensopados gordurosos.

FRANGO COM PALMITO DE BACURI

Ingredientes: 1 quilo de palmito de bacuri, 1 quilo de carne de frango, ½ cebola picada, 1 lata de massa de tomate, cheiro verde e cebolinha picados, orégano, coentro e sal a gosto.

Modo de preparo: Cortar o palmito em pedaços e cozinhar em água e sal até ficar mole. Fritar o frango com bastante óleo até ficar dourado. Em outra panela coloque o frango, o palmito, a cebola, a massa de tomate e os outros ingredientes, misture no fogo e sirva.

DOCE DE JARACATIÁ

O jaracatiá ou mamão-de-veado (Jacaratia spinosa), é uma árvore da família do mamoeiro, ainda bastante abundante pois a madeira não tem utilidade comercial (é oca e mole). Seu fruto é comestível, procurado por muitos animais, mas é necessário tirar o leite de sua casca antes de comer, pois pode ser tóxico. O fruto deixado secando ao sol, sem retirar o leite, é usado como um poderoso vermífugo. Pode-se fazer um delicioso doce com seu fruto e com seu caule:

Doce do Fruto do Jaracatiá:

Serão necessários 15 a 20 frutos maduros. Dispensar casca e sementes. Lave bem os frutos, corte em pedaços e lave novamente até eliminar o leite. Coloque para cozinhar em água, açúcar (pode colocar cravo), mexer até dar o ponto. Servir frio.

Doce do Caule do Jaracatiá:

Corte um círculo na casca da árvore, retire essa “tampa”, e retire um pedaço do caule. Em seguida, coloque novamente a casca na árvore e fixe com fita para soldar novamente, protegendo a árvore, que irá se regenerar. Lavar bem o pedaço retirado, ralar e deixar de molho por uma hora. Em seguida, lave novamente várias vezes até eliminar o leite. Cozinhe em água e açúcar (pode colocar cravo), mexendo até dar o ponto. Sirva frio.

LOCRO

E ssa é a denominação para um prato à base de canjica de milho e vértebras de boi, denominadas como “puchero”. É um alimento bastante forte, sendo preparado logo durante o carneamento do boi, com a finalidade de fortalecer os peões, empreiteiros e outros trabalhadores das fazendas nas regiões de fronteira entre Brasil e principalmente Paraguai.

Durante o carneamento, o puchero é separado e desidratado com sal grosso e fica “descansando” enquanto se termina o serviço. Para seu preparo, o puchero é feito em pedaços, separando todas as vértebras. Tempera-se com sal, alho e pimenta a gosto e é refogado, dando uma leve fritada.

Em seguida, prepara-se a canjica, cozida com água e sal. Quando estiver pronta, adicionar cheiro verde picado e o puchero, levar ao fogo até ficar cozido.

Como dizem os peões, é comer e dormir, pois é um alimento que dá “sustância”...

MANDIOCA

É um dos alimentos mais tradicionais em todo o Brasil, sendo preparada de várias maneiras diferentes, como a farinha, a tapioca, o cauim, e até mesmo seu consumo cozida ou frita. No Mato Grosso do Sul a farinha é bastante utilizada, mas principalmente a mandioca cozida é preparada para acompanhar o tradicional churrasco.
Muitas receitas originalmente feitas com farinha de trigo também acabaram incorporando a mandioca, como massa para salgados (coxinha), nhoque, tortas.

MAIONESE DE MANDIOCA

Ingredientes: 1 quilo de mandioca cozida em água e sal até ficar desmanchando, 2 ovos, 1 cebola picada, ½ limão, salsinha, cebolinha, óleo e vinagre.


Modo de preparo: Amassar a mandioca com o garfo e temperar com óleo, vinagre e sal. Bater no liquidificador os ovos, o limão e o óleo até dar o ponto. Misture esse preparado com a mandioca até ficar homogêneo, mexendo bem.

MARMELADA

O marmelo (Alibertia sp), fruta que ocorre na região, pode ser consumida diretamente da árvore, mas o doce preparado é um dos mais antigos e tradicionais do Brasil, tanto que o nome “marmelada” é hoje utilizado para designar compotas de sabores diferentes inclusive em outros países.